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A Mudança: Um Processo ou Uma Ilusão?

  • astrologiacomvida
  • 1 de mar.
  • 4 min de leitura

A Mudança: Um Processo ou Uma Ilusão?

A mudança é muitas vezes vista como uma adversidade, uma fase de incerteza que se tenta transitar com a maior brevidade possível. O desconhecido gera desconforto, e a tendência natural é procurar a estabilidade, minimizar riscos e evitar situações que desafiem a nossa percepção de segurança. No entanto, essa resistência pode limitar-nos, manter presos a padrões já estabelecidos e dificultar o processo de transformação genuína.

No mundo em que operamos, os estímulos externos que nos atacam por todo o lado e a qualquer hora, mesmo que não lhes prestemos muita atenção, acabam por criar na nossa mente uma espécie de norma que absorvemos de forma inconsciente. Quando se constrói uma norma, estabelece-se um standard ou padrão para o qual tendemos. Cria-se uma tensão psicológica constante que afeta o nosso bem-estar emocional e testa a nossa resiliência. A exterioridade acaba por ser interiorizada e incorporada na nossa visão do mundo e do nosso mundo dentro desse mundo. A partir daquele momento, não vemos mais a ideia como um objeto externo; temo-la dentro do nosso raciocínio, a operar como uma parte do nosso eu. Acabamos por absorver e fazer desaparecer algo criado pelo outro e tecê-lo nas redes dos nossos próprios pensamentos. Resumindo, a norma dissolveu-se dentro de nós a tal ponto que começámos a acreditar que sempre foi assim, que aquilo que pensamos e sentimos nos pertence por direito, quando, na verdade, pode ser apenas um eco de algo externo.

A própria ideia de mudança pressupõe uma separação entre o "agora" e o "depois", uma ilusão de descontinuidade dentro de um fluxo que, na realidade, nunca se interrompe. O tempo psicológico fraciona aquilo que, em essência, é um contínuo vivo, uma dança sem pausas onde cada instante já contém em si a semente do próximo momento. Assim, ao meu ver, a mudança se transforma em um obstáculo, algo que se entrepõe entre o que somos e o que projetamos sobre o nosso futuro subjetivo.

Se não criássemos essa divisão mental entre o que somos e o que queremos ser, entre o presente e o futuro, talvez nem perceberíamos a mudança como algo separado da própria experiência de existir. A mudança aconteceria silenciosamente sem precisar de ser nomeada, porque seria simplesmente parte indivisível do fluxo da vida, como respirar ou envelhecer.

Mas a mente humana opera por contraste, por comparações, por projeções. E, ao fazer isso, constrói-se a ideia de "mudança" ao mesmo tempo que se separa a mesma do próprio fluxo da vida. Cria-se assim um objeto para o qual desviamos a nossa atenção.


A Ilusão da Escolha Livre


Será que escolhemos mudar livremente? Ou apenas mudamos porque fomos condicionados a desejar algo diferente do que temos? A mente humana opera com um modelo de troca: mudar para ganhar algo. Queremos evoluir porque acreditamos que a evolução trará um benefício, seja reconhecimento, conforto ou uma sensação de realização pessoal. A mudança só faz sentido para nós quando existe um benefício claro. O ser humano, confrontado com a necessidade de mudar, procura fazê-lo apenas se houver uma melhoria tangível. A Urgência e a Mudança

A mudança guiada pela urgência tende a ser reativa, limitada pelas circunstâncias, enquanto a mudança que nasce da vontade genuína é transformadora. Quando o tempo não é um problema e a decisão de mudar surge sem a pressão do desespero, a mente pode operar com clareza, explorando alternativas de forma consciente e criativa.

Esse segundo cenário, onde a mudança acontece sem coação externa, permite um processo mais orgânico, menos baseado no medo e mais na curiosidade e no desejo de crescimento. Aqui, a mente não está encurralada; pelo contrário, ela expande-se, vê possibilidades, experimenta, ajusta o caminho sem a sombra da urgência.

O desafio, no entanto, é que esse tipo de mudança exige um nível profundo de autoconsciência. Muitas vezes, o ser humano só reconhece a necessidade de mudar quando a realidade o empurra para isso. Antecipar a mudança antes que se torne uma imposição requer uma relação mais íntima com o próprio fluxo da vida, um olhar atento para os sinais subtis de que algo já pede transformação.


Estratégia para a Mudança Consciente


Se a mudança pode ser vivida sem urgência, como podemos cultivá-la de forma natural, sem sermos reféns da pressão externa ou da necessidade de ganhos imediatos? A resposta pode estar na criação de hábitos que nos permitam desenvolver uma relação mais fluida com o processo de transformação.

Uma das estratégias a longo prazo para tornar a mudança num processo nosso e não imposto passa por cultivar a atenção plena (mindfulness) e a auto-observação. Praticar a consciência diária sobre os nossos pensamentos e emoções ajuda-nos a perceber os sinais subtis de que algo em nós já está a mudar, antes mesmo de a necessidade se tornar urgente. Ajustes mais pequenos mas feitos de forma contínua evitam o choque das grandes transições.

Outro hábito essencial é questionar a origem dos nossos desejos de mudança. Estamos a mudar porque realmente sentimos necessidade ou porque fomos condicionados a acreditar que devemos mudar? O desenvolvimento de um pensamento crítico permite distinguir entre necessidades que surgem de dentro e aquelas que são apenas respostas a estímulos externos.

Parece importante incorporar períodos de reflexão e adaptação ao longo do tempo para reforçar a ideia de que a mudança não precisa de ser forçada. Devemos cultivar um olhar mais amplo sobre o nosso percurso – o big picture. O que parece essencial hoje pode não o ser numa perspetiva mais longa. Olhar para a nossa vida de forma holística, dividida em fases onde o corpo se transforma e envelhece, a mente abranda e se concentra, e a emoção arrefece e estabiliza. Desta forma, podemos abraçar a transformação como parte do nosso próprio crescimento, sem resistência nem medo.


(Denis Getman. Projeto Cazimi- Astrologia e astro-coaching)

 
 

​© 2017 por Denis Getman Coaching.

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