Reflexão de um astrólogo após a consulta
- astrologiacomvida
- 27 de fev.
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Atualizado: 1 de mar.
Mudança, Incerteza e o Papel da Astrologia: Conforto ou Desafio?
Sempre almejamos um futuro de certezas e uma vida de conforto. Seres dinâmicos em constante busca, acabamos por nos cristalizar na vontade inalterável de prever o bom. Entramos neste mundo desprovidos das roupagens que as vivências posteriores nos dão em forma de memórias. Passamos pela brevidade da vida a galope, em prol de um sucesso permanente, e desvanecemos sem rasto, enquanto a nossa mente se perde no labirinto das lembranças.

Sempre que nos deparamos com a necessidade de mudar, enfrentamos um inimigo silencioso: a incerteza. É este confronto entre a mudança e a resistência que leva tanta gente a procurar respostas. Mas, no fundo, o que realmente desejam? Clareza sobre o futuro? Um novo rumo? Ou simplesmente a garantia de que tudo continuará sob controlo?
A astrologia surge, muitas vezes, como esse ponto de apoio. Mas até que ponto ela realmente desafia a mente a sair do ciclo onde já se encontra? A mesma mente que cria o problema é aquela que interpreta as respostas. Se essa mente está presa num determinado paradigma, não acabará por encaixar qualquer insight astrológico dentro desse mesmo sistema de crenças?
Isto leva-nos a um conceito essencial: a dissonância cognitiva. Quando recebemos uma informação que desafia a nossa visão do mundo, temos duas escolhas: rejeitá-la ou reinterpretá-la para que se encaixe naquilo que já acreditamos saber e conhecer. Este é um mecanismo de defesa poderoso, mas também um obstáculo à verdadeira transformação.
A astrologia funciona como um espelho simbólico. Os arquétipos e padrões do mapa natal oferecem possibilidades, mas a interpretação é sempre filtrada pela estrutura mental de quem recebe a mensagem. No fundo, olhamos para o mapa astral (Natal ou de trânsitos) e vemos não apenas o que ele diz, mas o que queremos que ele diga. E aqui surge a grande questão: qual deveria ser o papel do astrólogo?
Será que deve apenas oferecer o conforto que os clientes procuram? Ou, em determinados momentos, deve desafiar a pessoa a sair da sua zona de conforto, mesmo que isso signifique confrontá-la com verdades desconfortáveis?
A astrologia, sendo uma linguagem simbólica e interpretativa, pode ser usada tanto como uma ferramenta de autoconhecimento como um refúgio para confirmar crenças preexistentes. Mas a mudança real só acontece quando há uma decisão consciente de agir.
A mente que criou o problema tende a reciclar os mesmos padrões, girando em torno de si mesma.
A pergunta que fica é: será possível romper esse ciclo dentro da própria consulta?
Se a astrologia ilumina padrões, então o verdadeiro desafio não é apenas interpretar o mapa, mas encontrar formas de furar essa bolha cognitiva. Porque sim, muitos saem de uma consulta com um alívio temporário, mas quantas pessoas estão realmente dispostas a mudar?
Aqui entra um paradoxo interessante: a mente é, simultaneamente, a precursora da mudança e o maior obstáculo a essa mesma mudança. A mesma mente que criou o problema é a que tenta encontrar uma solução para ele. Mas, presa na sua própria lógica, vê a mudança como uma adversidade, uma fase de incerteza que deve ser superada o mais rapidamente possível.
No entanto, o ser humano só procura mudar quando percebe que a mudança pode trazer uma melhoria. O desejo de ganho está embutido na forma como abordamos a transformação. Assim, perante um problema, a mente vê dois desfechos possíveis: o ganho ou a perda.
Esta dualidade é fascinante. De um lado, a perda é temida e pode levar à inação. Do outro, a promessa de um benefício atrai e seduz. O desafio está em perceber como esta tensão interna molda a forma como encaramos as transições e, consequentemente, como a astrologia pode ajudar a desbloquear essa dinâmica.
Talvez o verdadeiro papel do astrólogo seja esse: ser um provocador da transformação, ajudando a ver além do que é confortável.
Porque, no final, a verdadeira mudança não acontece quando ouvimos o que queremos, mas quando temos coragem de enfrentar aquilo que não queremos ouvir.
(Denis Getman. Projeto Cazimi- Astrologia e astro-coaching)